Rua do Cais de Santarém - (2009) Foto de APS (Pormenor do "Chafariz de El-Rei" na Rua do Cais de Santarém) in ARQUIVO/APS
Rua do Cais de Santarém - (2010) - Foto de Dias dos Reis (Rua do Cais de Santarém - "Chafariz de El-Rei") in DIAS DOS REIS
Rua do Cais de Santarém - (1906) -Foto de autor não identificado (Aguadeiros enchendo os barris no "Chafariz de El-Rei" no início do século XX) in ILLUSTRAÇÃO PORTUGUESA Nº 28 Rua do Cais de Santarém - (1906) Foto de autor não identificado (Aguadeiros esperando o enchimento dos barris no "Chafariz de El-Rei" em perfeita harmonia) in ILLUSTRAÇÃO PORTUGUESA Nº 28
(CONTINUAÇÃO) - RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ XII ]
«CHAFARIZ DE EL-REI ( 3 )»
«CHAFARIZ DE EL-REI ( 3 )»
Tomou a Câmara posse do prédio no dia 30.06.1542. Sendo este «CHAFARIZ DE EL-REI» o único de abastecimento público bem podemos calcular a romaria constante, e a grandíssima afluência que teria, de todos os pontos de LISBOA. Consequência natural, e porque os que tinham de esperar se zangavam, aquela gente, das baixas camadas sociais, acotovelava-se, derrubava-se, originando grandes conflitos. Com o fim de remediar os perigos quotidianos a Câmara publicou o seguinte: "Constando ao senado que ha homens brancos, negros e mouros, que se vão pôr ás bicas do chafariz d'El-Rei, a vender água a quem a vae buscar, de que se seguem brigas, ferimentos e mortes, faz a sua postura, para repartição das ditas bicas, pela forma seguinte: Na primeira bica, indo da Ribeira para ella, encherão pretos forros e cativos, que forem homens. Logo na segunda poderão encher os mouros das Galés, somente a água que for necessária para as suas aguadas: e logo que encham os seus barris ficará a bica para os negros e mulatos, conforme a declaração atraz.
Na terceira e quarta, que são as do meio, encherão os homens e moços brancos; e na quinta encherão as mulheres pretas, mulatas e índias forras e cativas. E na derradeira bica, da banda de Alfama encherão as mulheres e moças brancas, conforme a declaração das bicas. Sob pena de quem o contrário fizer do que está dito, se fôr pessoa branca e forra, assim homem como mulher pagará 2$000 réis de pena e estará na cadeia três dias sem remissão, de que haverá metade da pena pecuniária quem a accusar, e a outra metade será para a cidade.
A mesma pena terão os ditos brancos, mulatos, índios e pretos forros, que encherem por dinheiro, ou achando-se que encham em qualquer das outras bicas além das que se lhe nomeiam; posto que corra a dita água no chão não poderão encher se não nas declaradas; e os negros e os captivos e os mais escravos e escravas, como forem pessoas captivas, que o contrário fizerem de tudo quanto está dito serão publicamente açoitados, com baraço e pregão, derredor do dito chafariz, sem remissão; conforme a provisão de el-Rei Nosso Senhor, novamente passada. As quaes penas se executarão três dias depois da publicação d'esta postura que se lhes dão para vir primeiro á notícia dos moradores d'esta cidade".
É assaz curioso este documento para se avaliar a situação do povo naquele século XVI, tão opulentado em Portugal pelas grandes descobertas e conquistas, que desde finais do século XV tornavam o nosso país alvo da atenção e inveja de todas as nações em geral e em especial de "VENEZA", que não podia conformar-se com a queda do seu domínio quase absoluto nos mares do Oriente.
Quantas pessoas passam perto do «CHAFARIZ DE EL-REI» sem imaginarem as contendas, as lutas, as mortes a que deu lugar o inconsciente local. Imagine-se a longa procissão de criaturas brancas, pardas, negras, de ambos os sexos, mais ou menos pitorescos nos seus trajes, ou miseráveis em seus andrajos, dia e noite desfilando pela «RUA DA RIBEIRA», sempre à beira TEJO, desafogado de prédios, e com um resguardo de parede onde as águas vinham sussurrar a horas mortas.
(CONTINUA) - (PRÓXIMO) -«RUA DO CAIS DE SANTARÉM [ XIII ] - CHAFARIZ DE EL-REI ( 4 )»
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