sábado, 14 de junho de 2014

LARGO DO CARMO [ XIV ]

 Largo do Carmo - (2010)-Desenho: Atelier Acácio Santos e Túlio Coelho - (Emissão de um selo pelos CTT comemorativo à canonização do BEATO NUNO de SANTA MARIA ou D. NUNO ÁLVARES CABRAL, em 26 de Abril de 2009) in  POVO
 Largo do Carmo - ( 2010 ) - Pintura do Mestre Carlos Alberto Santos (D. NUNO ÁLVARES PEREIRA, pintura do Mestre Carlos Alberto Santos) in  REAL ASSOCIAÇÃO DA BEIRA
 Largo do Carmo - (2010) Carlos Fontes ( D. Nuno Álvares Pereira empunhando a espada, em cima do seu cavalo) in COISAS DA CULTURA
 Largo do Carmo - (2009) ( A Espada do "SANTO CONDESTÁVEL" NUNO ÁLVARES PEREIRA no MUSEU MILITAR DE LISBOA)  in  LUSOPHIA
Largo do Carmo - (2010) Foto de Carlos Gomes ( O CENOTÁFIO de NUNO ÁLVARES PEREIRA e Terceiro Conde de Ourém, está colocado no Corpo Central do Panteão Nacional de Lisboa)   in AUREN

(CONTINUA) LARGO DO CARMO [ XIV ]

«AS RELÍQUIAS DO CONDESTÁVEL»

Os restos mortais de «NUNO ÁLVARES PEREIRA» ou "FREI NUNO DE SANTA MARIA" tiveram um percurso bastante acidentado.


Recolhido ao seu Convento no LARGO DO CARMO, o antigo CONDESTÁVEL DO REINO passou ali a sua vida. Lá faleceu em 1 de Abril de 1431 ( isto à sensivelmente 583 anos), num Domingo de Páscoa. Foi obviamente sepultado na Igreja que ele próprio criara.


Durante mais de 300 anos, as relíquias do guerreiro que se fizera monge foram veneradas no local próprio. Aconteceu depois o terramoto de 1755 que (como ainda hoje é visível, apesar das tentativas de reconstrução levadas a cabo e nunca completadas) deixou a Igreja muito mal tratada.

As preciosas relíquias de NUNO ÁLVARES foram então recolhidas e levadas para a IGREJA DA ORDEM TERCEIRA DE NOSSA SENHORA DO MONTE DO CARMO, instalada num prédio (de que já falámos) no topo do LARGO DO CARMO, entre as Ruas da "CONDESSA" e da OLIVEIRA ao CARMO".
Ali permaneceram até 24 de Março de 1836, data em que foram levadas para o MOSTEIRO de SÃO VICENTE, existindo a intenção de os transportar depois para um dos Mosteiros Nobres: o da BATALHA ou o dos JERÓNIMOS. Nada se resolvendo, acabaram os ossos por ir parar novamente à IGREJA DA ORDEM TERCEIRA - de onde só saíram já em meados do século XX, com destino à nova IGREJA DO SANTO CONDESTÁVEL, em CAMPO DE OURIQUE.
Nesta complexa relação do beato NUNO DE SANTA MARIA (elevado aos altares em Janeiro de 1918) com a cidade de LISBOA, faltava um capítulo no qual fosse prestada a homenagem devida.

Não se tornando viável reerguer a IGREJA DO CONVENTO DO CARMO e existindo a necessidade de se construir novas IGREJAS na CIDADE, para corresponder às necessidades provocadas pela expansão e pelos locais de fixação, decidiram as autoridades eclesiáticas que o novo templo a erguer em CAMPO DE OURIQUE fosse dedicado ao antigo defensor da independência de Portugal, entretanto beatificado.
A IGREJA DO SANTO CONDESTÁVEL foi construída no espaço da antiga "EMPRESA CERÂMICA DE LISBOA" existindo desde o ano de 1883, tendo sido um dos polos de desenvolvimento do BAIRRO de CAMPO DE OURIQUE, especializada no fabrico de telhas "MARSELHA", situava-se exactamente onde podemos ver hoje esta IGREJA do CONDESTÁVEL.
Em 1946, começou a construção da IGREJA em forma de cruz latina, inspirada nos tempos portugueses da fase final do gótico.
O projecto foi do arquitecto VASCO REGALEIRA e foram chamados a prestar colaboração os escultores LEOPOLDO DE ALMEIDA, VELOSO DA COSTA e SOARES BRANCO e os pintores ALMADA NEGREIROS, PORTELA JÚNIOR e JOAQUIM REBOCHO. A inauguração teve lugar em data apropriada: 14 de Agosto de 1951, dia em que se comemorava o aniversário de ALJUBARROTA.
Saíram então as relíquias do SANTO CONDESTÁVEL do seu velho lugar de repouso, na ORDEM TERCEIRA. Foram levadas num armão de artilharia, com escolta de honra, em vistoso cortejo. Uma pequena relíquia ficou na Igrejinha do Carmo e o lugar do primitivo túmulo, no então CONVENTO e hoje MUSEU, ficou devidamente assinalado.
Também, no corpo central do PANTEÃO NACIONAL (em SANTA ENGRÁCIA) encontra-se (além de outros) o CENOTÁFIO ( 1 ) de "D. NUNO ÁLVARES PEREIRA".

Longa e algo acidentada jornada tiveram pois as ossadas de NUNO ÁLVARES, desde a sua morte até 1951. Anos antes, em 1944, ao assinalar-se o aniversário natalício do BEATO, tinha um "Conselho da Ala do Santo Condestável" decidido fazer em LISBOA uma procissão em que figuravam as suas ossadas. Tal cortejo pareceu um tanto insólito a muito boa gente, por não vir a propósito, não ter qualquer antecedente e poder até ser encarada como uma espécie de profanação.
A encabeçar os protestos, esteve o olisipógrafo e jornalista NORBERTO DE ARAÚJO.
Diga-se ainda, que se vaticinou para LISBOA projectar também uma estátua para NUNO ÁLVARES. Discutiu-se se deveria estar em pé ou a cavalo, foi escolhida a última versão, e resolvida a questão, foi para a BATALHA, oferecida "pelo povo de LISBOA".

( 1 ) - CENOTÁFIO - (do Grego Kenotaphion, pelo Latim Coenotaphium). Túmulo ou Monumento sepulcral, erigido à memória de alguém (neste caso a D. Nuno Álvares Pereira), mas que lhe não contém o corpo.

(CONTINUA)-(PRÓXIMO)«LARGO DO CARMO [ XV ] - NUNO ÁLVARES PEREIRA»

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