sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

LARGO DO MARQUÊS DE NISA

Pertence à freguesia do BEATO, situa-se entre a Rua de Xabregas (frente do número 83) a Rua Gualdim Pais e a um arco com o número 5 que representa uma das entradas para a Vila Flamiano.

No dizer de Norberto de Araújo nas sua PEREGRINAÇÕES EM LISBOA - volume XV página 58. «No segundo arco da ponte, no Largo do Marquês de Niza, sai-nos a Rua Gualdim Pais, que não é antiga, e, mais à frente, pelo terceiro arco, o Beco dos Toucinheiros, que nos leva ao Alto dos Toucinheiros»

Largo muito pitoresco de características próprias, com uma das entradas para o Palácio Nisa (que lhe deu o nome) e construído sobre os terrenos do antigo Paço Real de Enxobregas, do século XVI. Doado por D. Luísa de Gusmão à Condessa de Unhão, passa por casamento à Marquesa de Nisa, integrando-se assim nas Casas de Nisa e Vidigueira. O nome do Largo tem ligação a Vasco Luís da Gama diplomata (1612-1676) era 5º Conde da Vidigueira. Sucedeu na casa paterna apenas aos 20 anos, tornando-se almirante do mar das Índias, senhor da Vila de Frades e Trevões. Foi dos primeiros entre os grandes do reino que se manifestaram por D. João IV.



Embaixador em França de 1642 a 1649, conseguiu neutralizar as pressões espanholas junto de Mazarino. O título foi-lhe concedido em 18.10.1646. De regresso ao reino exerceu os cargos de deputado da Junta dos Três Estados e membro do Conselho de Estado e do da Guerra. Em 1668 foi um dos plenipotenciários negociadores com Espanha do tratado de paz. Passou depois a vedor da Fazenda e estribeiro-mor da rainha D. Maria Francisca.



Este Palácio sofre transformações na 2ª metade do século XVIII e, depois de 1867 é comprado pelo Estado por iniciativa da Rainha D. Maria I. Os imóveis foram adaptados, sendo ali instalado o Asilo D. Maria Pia, destinado a recolhimento e casa de correcção de menores.

Desde 1941 é uma secção da Casa Pia de Lisboa, tendo na fachada principal um portal nobre e na fachada lateral vê-se o escudo de D. Luís.(1)



Existiu também nos finais do século XIX e meados do século XX, mesmo defronte do Palácio Nisa, um mercado fixo, diário a Céu aberto, onde se vendiam frutas, hortaliças, peixe, aves até se chegou a vender no tempo da Segunda Guerra Mundial carne de Baleia, num posto especialmente concebido para o efeito.



Na obra DO ANTIGO SÍTIO DE XABREGAS, o seu autor Mário Furtado faz a seguinte alusão: «O Largo do Marques de Nisa era fechado a norte por um prédio, existindo apenas uma passagem pedonal pelo Beco da Horta das Canas, onde hoje se situa o restaurante "O Cantinho"».



Nos anos 45-50 do século passado ainda existia essa passagem no canto do Largo (junto ao Pátio do Asilo) que servia de ligação ao Beco da Horta das Canas, que dava continuidade do Largo Marquês de Nisa para a Estrada de Chelas.



Embora a Rua Gualdim Pais estivesse projectada em 1908, como uma «nova artéria comercial, que ligasse o Largo do Marquês de Nisa, com a Estrada de Chelas», pelo facto de «na Rua Direita de Xabregas, o transito de carroças ser bastante intenso, constante e ruidoso»(2). Só mais tarde, com Edital de 19 de Junho de 1933 esta artéria era criada e, ao que se sabe, começaram inicialmente por deitar abaixo um prédio na parte norte para ligar a Rua ao Largo. Só nos anos 70 do século passado se finalizou a abertura que agora apresenta, com o arrasamento do segundo prédio. No rasgar da rua e demolição do imóvel, foram desalojadas algumas famílias e um estabelecimento comercial (a taberna do "Moreno").



Ainda neste Largo nos números 5-7 existiu uma fábrica de grande nome nacional. Trata-se da Fábrica Âncora fundada em 1882, que empregava um número considerável de trabalhadores, e prezavam colocar no mercado um dos mais deliciosos Licores de "EREMITA" amarelo e verde, bem como o tão apreciado "Triple-Sêco", tudo produtos de destilação a vapor. Naquele tempo, (anos 50 do século XX) algumas crianças eram chamadas a apanhar os limões ou laranjas descascadas, uma vez que só as cascas eram utilizadas para os licores. A Fábrica estava já alguns anos desactivada e verificámos com tristeza (2004) que o imóvel estava a ser demolido.



Por um pequeno túnel em forma de arco com o número 5 deste Largo, dá acesso a uma vila projectada pelo engenheiro António Teixeira Júdice. Trata-se da Vila Flamiano, inaugurada em 22 de Outubro de 1888, foi construída para albergar os operários (Mestres e Contramestres) da Companhia do Fabrico de Algodões de Xabregas. Esta Vila circundada por muros, tem três ruas distintas e um largo (hoje ocupado por uma oficina de Mecânica de Automóveis) a nascente a Rua de S. Pedro, a Rua do Meio e paralela à Rua Gualdim Pais a Rua do Sol. Nesta mesma Rua do Sol existe um portão que dá acesso ao lado norte da Vila. Além desta vila, existe o Pátio do Asilo,que tem entrada pelo número 2-B no Largo Marquês de Nisa.



(1) - Pelas Freguesias de Lisboa - Lisboa Oriental Beato - CML 1993

(2) - Freguesia do Beato na História - página 46 - Janeiro de 1995



1 comentário:

pessoa1 disse...

Confirmo. Nos anos 50 morava então no beco da horta das canas, muitas vezes quando passava en frente da fabrica, avia os agrumes sen casca, so que muitas vezes limões e laranjas amargas. Obrigado pela informaçao historica.