Calçada da Cruz da Pedra (1967) Foto de João H. Goulart (antigas casas das "Guardas Barreiras") in AFML
(CONTINUAÇÃO)
CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA
«O PASSADIÇO OU ARCO DA CRUZ DA PEDRA»
Diz-nos Júlio de Castilho no seu livro «DISPERSOS» que entre o muro de gola do Forte da Cruz da Pedra e a Quinta do Manique, no sítio do portão da rampa de acesso à fábrica de bebidas gasosas de George Hall, (conhecida por nós, como a fábrica dos "PIROLITOS"), proprietária da Quinta, estava lançada sobre a rua, um «passadiço ou arco, da Cruz da Pedra», que se vê em mapas antigos de Lisboa, e que provavelmente foi construído para estabelecer a comunicação privativa entre os dois fortes, deixando livre a estrada para serviço do público.
A sua construção deverá ter-se iniciado pela segunda metade do século XVII, e a sua demolição para beneficio do transito em 1837 (1).
Além do nome de «RUA» ou «CALÇADA DA CRUZ DA PEDRA», esta serventia só teve um outro, e isoladamente: "Rua do Arco da Cruz da Pedra" (2), arco que vemos citado pela primeira vez em 1755 (3), que atravessava a rua, e se apoiava pelo Norte no muro da quinta das casas nobres que depois foram do Visconde de Manique.
Para a história do arco existe na Câmara Municipal um contrato de convenção, celebrado em 30 de Abril de 1790, entre o Senado da Câmara e o desembargador ANTÓNIO JOAQUIM DE PINA MANIQUE, irmão do Intendente, pelo qual se vê que os antigos proprietários das casas nobres dos Maniques «entrarão a usarem da área e terrapleno do mesmo Arco ou Porta da Cidade», uso que o desembargador continuou fazendo «persuadido de que havia para esse efeito legítimo título adquirido por seus antecessores» quando afinal nunca tinha sido dada qualquer autorização nesse sentido.
Numa petição feita pelo desembargador antes da assinatura do contrato, vê-se que foi ele quem «benfeitorizara o terrapleno do dito Arco com gradeamento de ferro em lugar das grosseiras cortinas que sempre teve e com alguns pilares de pedra, um cunhal de pedra da parte Sul para simetria de outro cunhal da porta do Norte»(4).
O Arco desapareceu depois do advento do regime liberal; em Novembro de 1837 a Câmara mandava intimar o Visconde de Manique, já pela segunda vez, para que o demolisse(5).
(1) - Peregrinação em Lisboa-Norberto de Araújo.Livro XV-1939, pág. 38
(2) - Livro IV de Óbitos, fl. 79V - Santos
(3) - Livros II de Óbitos, fl. 158 - Santos
(4) - Prazos da Freguesia de Santa Engrácia, caixa 16/5 - Maço- Foro diversos.
(5) - O Arco da Cruz da Pedra, no documento de 1790 de que extractámos apenas uma parte, é classificado, e por mais de uma vez, como porta da cidade, o que nos causa estranheza, visto sabermos que em 1807 as portas eram ainda junto ao Convento de Santa Apolónia e em 1852 no vértice do ângulo que formam as antigas estradas para CHELAS (Circunvalação) e para Xabregas (Rua da Madre de Deus).
OBRAS CONSULTADAS
- Araújo, Norberto de - «Peregrinações em Lisboa» Livro XV - 1935
- Furtado, Mário - Do Antigo Sítio de Xabregas - 1977
- Silva, Augusto Vieira - DISPERSOS - Volume I - Lisboa - 1968
- Macedo, Luiz Pastor de - «LISBOA DE LÉS A LÉS» Volume III, 1985 -CML
2 comentários:
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